A astrologia é um elemento essencial para a prática da magia, sendo uma das chaves para a realização bem-sucedida das evocações dos espíritos listados no Ars Goetia. Diferente da abordagem moderna, que foca em um simbolismo psicológico, a astrologia tradicional aplicada à magia salomônica segue regras rigorosas para garantir que o contato com as entidades ocorra sob condições ideais. O Lemegeton fornece diretrizes explícitas sobre os melhores momentos para realizar as operações mágicas, mas há detalhes implícitos que precisam ser compreendidos para otimizar as evocações.
O primeiro ponto crucial a ser considerado é a idade da Lua. Segundo o grimório, os dias mais propícios para as operações são aqueles em que a Lua tem 2, 4, 6, 8, 10, 12 ou 14 dias de idade, o que corresponde à fase crescente até a Lua Cheia. Essa escolha não é aleatória. A Lua crescente simboliza expansão, crescimento e fortalecimento das forças invocadas, permitindo que a manifestação dos espíritos ocorra com mais potência. Evocações realizadas fora desse período podem ser menos eficazes ou até mesmo resultar em falhas na manifestação das entidades.
Outro fator determinante é a hierarquia dos espíritos e seus respectivos horários de evocação. Cada classe de espírito tem um período do dia para ser chamado, e isso deve ser seguido com rigor. Os Reis, por exemplo, são melhor evocados entre nove horas da manhã e meio-dia, ou entre três horas da tarde e o pôr do sol. Os Marqueses podem ser chamados entre três da tarde e nove da noite, ou entre nove da noite e o amanhecer. Os Duques devem ser evocados entre o nascer do sol e o meio-dia, preferencialmente em dias de céu limpo. Os Prelados podem ser invocados a qualquer momento do dia, sem restrições horárias. Os Cavaleiros manifestam-se melhor ao amanhecer até o nascer do sol ou entre quatro horas da tarde e o pôr do sol. Os Presidentes podem ser chamados a qualquer momento, com a exceção do crepúsculo noturno, a menos que o Rei ao qual estão subordinados tenha sido evocado antes. Já os Condes devem ser evocados apenas em florestas ou locais remotos onde não haja ruído ou presença humana.
Embora o Lemegeton estabeleça esses períodos, há um princípio astrológico subjacente que pode ser extraído a partir da correspondência entre os metais e os planetas. Cada classe de espírito tem um metal associado, e esses metais seguem a regência planetária tradicional. Os Reis estão ligados ao ouro, que é o metal do Sol, indicando que o melhor dia para evocá-los é o domingo. Os Marqueses correspondem à prata, o metal da Lua, tornando a segunda-feira o dia mais adequado para chamá-los. Os Duques são associados ao cobre, o metal de Vênus, sugerindo que a sexta-feira seja um momento propício para sua manifestação. Os Prelados estão ligados ao estanho, metal de Júpiter, indicando que devem ser evocados na quinta-feira. Os Cavaleiros possuem correspondência com o chumbo, metal de Saturno, o que sugere que o sábado seja o dia mais eficaz para chamá-los. Os Presidentes estão associados ao mercúrio, que corresponde tanto ao metal quanto ao planeta, fazendo da quarta-feira seu dia ideal. Já os Condes possuem uma peculiaridade, pois seus selos devem ser feitos com uma combinação de cobre e prata, unindo as influências de Vênus e da Lua. Isso sugere que tanto segunda-feira quanto sexta-feira podem ser utilizadas para a evocação desses espíritos.
Além da escolha do dia e do horário apropriado, outros fatores astrológicos podem aumentar significativamente a eficácia da evocação. A posição do planeta no zodíaco deve ser observada, pois ele atua como um intermediário entre o operador e o espírito evocado. Observar se o planeta a qual o espírito está vinculado está em regência ou exaltação, são momentos tradicionalmente mais favoráveis para as operações de contato com essas entidades. A Lua em conjunção, sextil ou trígono com o regente planetário do espírito evocado fortalece a comunicação e a manifestação da entidade. Mercúrio bem posicionado, especialmente quando está direto e formando aspectos harmônicos com a Lua ou Júpiter, favorece a clareza da comunicação. Vênus bem aspectado é útil para espíritos associados a amor e prosperidade, enquanto Marte favorece evocações que envolvem autoridade e domínio.
É fundamental evitar períodos de Mercúrio retrógrado, pois isso pode causar distorções na comunicação com os espíritos. Eclipses também são momentos críticos e devem ser evitados, pois tendem a gerar instabilidades energéticas e abrir portais imprevisíveis. A Lua fora de curso, um período em que a Lua não forma aspectos antes de mudar de signo, também pode enfraquecer a eficácia da evocação.
A astrologia não deve ser vista apenas como um complemento secundário na prática da Goetia, mas sim como um elemento essencial que garante que a evocação ocorra no momento certo e sob as influências mais propícias. Seguir essas diretrizes não apenas melhora as chances de manifestação dos espíritos, mas também fortalece o controle do operador sobre a ação mágica, tornando o processo mais seguro e eficaz. A observância dessas regras astrológicas, combinada com o devido preparo ritualístico e psicológico, permite que a prática goética seja conduzida com o máximo de precisão e respeito às forças invocadas.
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